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Matas de Brejo: Caracterização e Dicas para Reconhecimento de Espécies Indicadoras

Neste post, eu quero explorar um pouco uma fitofisionomia muito importante do domínio savânico, mas que também ocorre no domínio da Mata Atlântica: as Matas de Brejo. Conhecidas também como “matas ciliares”, “matas paludícolas”, “matas de galeria” ou “matas de várzea”. Quero também oferecer a vocês algumas dicas bem legais sobre identificação de plantas.

Esta floresta, sob o ponto de vista hidrológico, também pode receber a denominação de “mata ripária”. A zona ripária é a porção do terreno com lençol freático mais superficial e até aflorante, que apresenta relações hidrológicas diretas com o corpo hídrico adjacente. A Figura 1 abaixo apresenta um esquema básico de uma zona ripária.

Esquema

Figura 1: Esquema ilustrativo de uma zona ripária. Modificado de: Paula Lima & Zakia (2001)

Em poucas palavras, a floresta que margeia os rios e que, dependendo das condições geomorfológicas pode sofrer diferentes regimes de inundação, desde os mais brandos (poucas semanas) até os mais severos (vários meses do ano inundadas), possui o papel fundamental em incentivar o escoamento de subsuperfície. Este escoamento é FUNDAMENTAL para garantir o suprimento de água em qualidade e quantidade adequada nas microbacias hidrográficas.

Eu gravei um vídeo super interessante no meu canal no YouTube que mostra isso na prática. Assista abaixo:

Nesse post, eu quero discutir um pouco sobre aquelas florestas que sofrem os efeitos severos da inundação em vários meses do ano, iniciando nas primeiras chuvas da estação úmida e se mantendo até alguns meses da estação seca. É o caso de uma das Matas de Brejo que pude conhecer e estudar recentemente na planície de inundação do Rio Paraná, no município de Três Lagoas, MS.

Conheça a floresta através da vídeo-aula bem interessante sobre Matas de Brejo que eu postei no meu canal do Youtube.

Vídeo-aula sobre as Matas de Brejo

Através da vídeo-aula, você pode constatar que existe uma seletividade ambiental muito forte nesta tipologia de floresta. Nem todas as espécies que ocorrem nas florestas em solos bem drenados do entorno conseguem ocorrer nestas baixadas. Algumas outras imagens que ilustram aspectos relevantes das matas de brejo (Figuras 2 a 5).

Sub-bosque do brejo

Figura 2: Sub-bosque típico das matas de brejo. Em primeiro plano, palmeiras de pequeno porte (Geonoma brevispatha). No componente herbáceo residente, Blechnum brasiliense (samambaia).

Solo hidromórfico

Figura 3: Solo hidromórfico da Mata de Brejo. Condição limitante para o estabelecimento de muitas espécies arbóreas intolerantes ao encharcamento.

Raízes aéreas

Figura 4: Raízes “aéreas” de Hedyosmum brasiliense. Uma adaptação específica para possibilitar a sobrevivência desta espécie nesta fitofisionomia.

Mata de brejo

Figura 5: Porção da Mata de Brejo com elevada abundância de Hedyosmum brasiliense.

Do ponto de vista florístico-fitossociológico, as matas de brejo são reconhecidas como de baixa riqueza arbórea, porém elevada biodiversidade “não-arbórea”. Temos um número elevado de ervas (p.e. espécies de monilophyta, Costus spiralis e Heliconia spp.) e hemi-epífitas (Philodendron spp.).

Poucas espécies arbóreas se desenvolvem no local, devido à seletividade ambiental.

A diversidade é baixa, já que ocorre o predomínio de poucas espécies na comunidade vegetal (baixa equabilidade). O que isso significa? Há um grupo limitado de espécies que possui elevada abundância (número de indivíduos) e dominância na área.

Dentre estas espécies “predominantes”, temos tanto aquelas generalistas (ocorrem em matas de brejo como em outras fitofisionomias do entorno) como aquelas exclusivas (ocorrem exclusivamente nas matas de brejo).

A pesquisadora do IF Maria Tereza Toniato estudou bastante as Matas de Brejo em seu mestrado.

Segundo dados publicados pela autora e de acordo minhas observações de campo em MS, podemos citar algumas espécies generalistas de ampla expressão nestas florestas e de ampla distribuição no Brasil, são elas: Guarea macrophylla (baga-de-morcego), Hedyosmum brasiliense (limão-bravo), Protium heptaphyllum (breu, almecegueira) e Syagrus romanzoffiana (jerivá).

Agora, eu quero compartilhar com vocês dicas interessantes sobre algumas destas espécies.

Vocês sabem reconhecer estas espécies apenas através de caracteres vegetativos?

Segue abaixo trecho da chave de identificação do nosso curso ON-LINE “O Segredo da Identificação de Plantas” que traz o “macete”, a grande sacada, para reconhecer Guarea vegetativamente:

Trecho da chave de identificação

Este gênero possui folhas compostas pinadas. Se você for capaz de reconhecer esta gema (Figura 6), você conseguirá identificar o gênero. G. macrophyla possui 3 a 6 pares de folíolos com até 12 cm de comprimento.

Guarea macrophylla

Figura 6: Ramo de Guarea macrophylla (baga-de-morcego). A caneta aponta a gema de crescimento indeterminado. A principal característica vegetativa para reconhecimento gênero!

O Hedyosmum brasiliense também é bem simples de ser identificado no campo. Basta reconhecer as estípulas interpeciolares que ele possui em forma de ócrea (se fundem) entre os pecíolos e sentir o aroma cítrico de seus ramos.

Protium heptaphyllum também possui ramos aromáticos. Só que o odor é de terebintina (parecido com o do ramo de mangueira) e as folhas são compostas pinadas.

Questão de reflexão: Quais as semelhanças vegetativas entre a família Anacardiaceae e Burseraceae? Envie sua resposta para o meu e-mail contato#brasilbioma.com.br (# = @)!

Eu levei a chave de identificação do curso on-line para testá-la nesta floresta de brejo entre o MS e SP e o resultado foi ultra satisfatório!

Todas as espécies que eu rodei a chave foram determinadas até o nível genérico, pelo menos. Isso mostra que o material está totalmente apto a ser utilizado em diferentes localidades do domínio Atlântico e do Cerrado.

Adquira o acesso ao nosso curso ON-LINE e receba a nossa chave de identificação.

Com a aquisição, você receberá todas as atualizações desta chave a partir do momento da sua compra. Um bônus exclusivo e que eu tenho o maior prazer de oferecer a você.

Este é o resultado de quase uma década de estudos em taxonomia de campo, e já adianto, estou trabalhando para aperfeiçoar esta chave cada vez mais!

Por outro lado, há um grupo de espécies que só ocorrem em matas de brejo ou matas bem úmidas. Entre as espécies de maior valor de importância na comunidade deste grupo, segundo dados da pesquisadora Toniato, podemos citar: Calophyllum brasiliense (guanandi). Styrax pohlii (cafezeiro) e Talauma ovata (magnólia-do-brejo).

Bem, como toda boa Clusiaceae, com a ressalva de que C. brasiliense foi alocado na família Calophyllaceae em APG III, as folhas do guanandi são simples e opostas, com a presença de látex. Em guanandi, a nervação é peniparalelinérvia e o tronco dispensa comentários por ser tão característico (Figura 7). É uma árvore majestosa nas Matas de Brejo e Ciliares!

Tronco

Figura 7: Tronco fissurado de Calophyllum brasiliense (guanandi).

Em relação à Styrax pohlii, os participantes do curso “O Segredo da Identificação de Plantas” já estão cientes do desafio que é reconhecer plantas com folhas simples e alternas espiraladas, mas que não possuem látex, glândulas na folha, estípulas, nervação características e etc.

Há um grupo considerável de gêneros de plantas arbóreas (Styrax) que se encaixam nesta descrição (ou falta de descrição!).

Já passei aos alunos através da chave de identificação alguns macetes para reconhecer vários destes grupos. É realmente complicado quando você coleta um ramo com estas características, mas não desanime!

Estamos discutindo essas questões no grupo no Facebook exclusivo aos participantes do curso ON-LINE para que as pessoas possam se sair melhor em campo.

Noto que muitos profissionais só conseguem reconhecer a Talauma ovata (magnólia-do-brejo), outra espécie exclusiva de florestas úmidas, quando está com suas belas flores ou frutos apocárpicos. Mas você já observou a cicatriz linear no pecíolo (Figura 8) que esta, e SÓ ESTA, espécie nativa possui?

Folha

Figura 8: Folha velha de Talauma ovata (magnólia-do-brejo) presente na serapilheira. A observação cuidadosa do material permite reconhecer uma cicatriz linear e longitudinal no pecíolo que representa uma sacada poderosa na identificação com material vegetativo.

Interessante notar que, caso você tenha posse destas dicas relevantes para identificação de plantas, você pode reconhecer facilmente várias espécies na floresta, mesmo sem material fértil.

Isso é importantíssimo para quem trabalha com consultoria ambiental, na elaboração de laudos de vegetação, inventários florestais e diagnóstico de vegetação para RAPs ou EIA/RIMAs.

É particularmente útil a quem trabalha com restauração ambiental, aprendendo a reconhecer espécies observando mudas, uma atividade muito complexa, mas essencialmente possível e prazerosa!

Aprender a observar estes caracteres é relevante a quem contempla e deseja compreender melhor a vegetação.

Bem… Eu espero que este post tenha sido útil para você.

Procurei neste texto passar dicas de identificação de plantas, além de fornecer a você informações técnicas relevantes para a caracterização das Matas de Brejo, uma fitofisionomia muito importante do Brasil Central.

Eu forneço uma Série Gratuita sobre Identificação de Plantas que você pode receber em seu e-mail agora mesmo através do link abaixo:

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Bibliografia consultadas para a elaboração deste post:

PAULA LIMA W. & ZAKIA, M.J.B. 2001. Hidrobiologia de matas ciliares. In Matas ciliares conservação e recuperação (R.R. Rodrigues & H. F. Leitão Filho, eds.). Edusp; FAPESP, São Paulo, p33-44.

TONIATO, M.T.Z. 1998. Estudo fitossociológico de um remanescente de Mata de Brejo em Campinas, SP. Dissertação de Mestrado. UNICAMP.

Até a próxima!

Abraços,

Rodrigo Trassi Polisel

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